quarta-feira, 28 de julho de 2010

lua cheia

Então as lobas saem de suas tocas, com seus instintos de cachorra.
Os lobos espertos também, com seus instintos de... como é mesmo que eles dizem..? Isso! Homem. Nada mais natural nesse mundo que o tempo e a natureza, mas o mundo deixou de ser natureza faz tempo. Os lobos-homens ficam meio desatentos, eles não querem ovelhas nem lobas. Eu que não queria essas lobas disfarçadas de ovelhas. Nem virar loba numa lua qualquer. Nem a imortalidade.
Eu só queria uma lua, cheia, e o direito à palavra!
Não quero ser ovelha
nem loba
nem gente
nem urubu.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

i'm so tired

Eu não quero acabar a noite num igreja de bêbados, eu não quero parir um bicho-do-mato, filho de ninguém, filho de mim.
Eu tentei sair pelas portas laterais, sem me despedir, mentindo para mim mesma que ia voltar.
Eu busquei o caminho mais difícil, o de sonho sem sono, o de pedra, o da inconsciência.
Eu quis ser verdade com os outros, e a única maneira de ser verdade com os outros é antes mentir pra si.
E não,
e não
e não.
I need a fix 'cause i'm going down...
Essa angústia de ser humano só, porque ser é só e é só o que é ser.
E eu já não sei dormir, eu já não sei escrever, eu já nada.
Boa noite, meu bem.

domingo, 11 de julho de 2010

terça-feira

eu não quero nenhum obstáculo entre o som
e eu
entre teu som
e eu
som de guitarra
gemido
sono
violão
e riso

While your guitar gently plays...

eu ando à beira
à beira da insanidade
meu tempo escorrendo
eu não consigo segurar o tempo
eu não vejo o tempo
sinto apenas a ausência de tempo
essa fúria de tempo
me arrancando os cabelos
meus olhos andam à beira
de um susto
à beira de um desmaio
num salto,
num segundo parado eterno
e se não cai e não levanta
e não acorda e não dorme
e não aceita e não nega
é à beira do caminho
que se segue e se para
e se esquece
na brisa de cada dia

sábado, 10 de julho de 2010

Susurro

há algo de triste na alegria dessa cidade
no caminho dessa rua
na calma dessa casa
se eu te explicar, talvez você não entenda
mas o espaço do teu abraço é do tamanho do meu vazio
a manhã-tarde de preguiça é lenta como meus gestos
devagar como meus pensamentos
divagueiam
e se perdem
no meio de caminho nenhum
mas já estou tão cansada
de passos sem sentido no meu corredor
de corpos correndo e rindo, sem alma
de corpos de escudo
e ouvidos de filtro

-mais uma dose, por favor!
mais uma dose pois embora eu os esqueça, meus vícios não me esquecem
minha casca não me esquece
o medo não me esquece
e eu me vicio no medo da minha casca
e na tua cura
pras nossas feridas

-uma dose de paz, por favor!
com uma porção de confiança e liberdade
e vamos viajar numa nave de espelhos
até o interior de nós mesmos,
sem pressa
porque a paz que eu quero vem em carinhos calmos
depois de corações acelerados
e é repleta de silêncios
que não esperam palavras
mas se deleitam em suspiros
ou na lágrima de um amigo
prestes a virar sorriso
a paz que eu quero se aflige muito
em busca da palavra exata
e eu a consolo:
"minha paz, não existe nada, nada.."
e ela se deita comigo
e esquecemos cidade, corredores, escudos, pensamentos..
e dormimos
como anjos
em paz

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pré- saudade

meu melhor de mim
mel de lua cheia
todos meus sóis sabem a luz que falta
em luas rasas
todas as festas restam
com suas réstias
de luz
com seus restos
mortais

vem plantar em mim sementinhas de sol
em meu corpo
esquecimento do mais,
delírio

e eu nua protegida da chuva
eu nua banhada de lua.